Com muito mistério e convidando o espectador a montar um quebra-cabeças junto com o personagem principal, o drama Noites de Alface chega às telas de cinema na próxima quinta-feira (24) e reflete sobre a solidão e a dor do luto.
Mesmo tendo sido gravado no fim de 2018, muito antes do início da pandemia de Covid-19, a produção se mostra atual ao lidar com o isolamento de Otto (Everaldo Pontes), após a ausência da esposa Ada (Marieta Severo). Inspirado em um romance da escritora e jornalista Vanessa Barbara e com direção de Zeca Ferreira, Noites de Alface, gravado na Ilha de Paquetá, no Rio, transporta o espectador para a simplicidade e aconchego do local.
O longa conta a história do casal Ada e Otto. Juntos há mais de 50 anos, ele resolve se isolar em sua bucólica casa amarela para lidar com o luto. E a cada encontro com os vizinhos, Otto, que costuma passar as noites tomando chá de alface para resolver seus problemas de insônia, se convence de que há um mistério na pacata cidade e que precisa resolver.
"É uma comunidade que tem uma vida sem grandes acontecimentos, sem grandes aventuras, mas que, ao mesmo tempo, tem uma capacidade de inventar, através da ficção, a vida delas".
Marieta Severo
Misturando realidade com ficção, o filme mostra também o amor de Otto pela leitura e pelos livros de suspense, o que faz com que o personagem se dedique ainda mais a resolver um mistério da cidade: o sumiço do carteiro. Otto atravessa noites entre espiadas pela janela e visitas as suas lembranças, para conseguir resolver o caso.
"Toda ponte que esse homem tinha com o mundo exterior era feita por essa mulher e ele tinha nela uma figura que fazia as pontes com o lado de fora. Ele era o cara que fica dentro de casa esperando a Ada chegar com as fofocas e, na falta dela, ele teve que construir as histórias que ela não está mais trazendo", disse Zeca, diretor do filme, em coletiva online realizada na quinta-feira (17).
Marieta define a produção como uma história linda e poética. E afirma que o que a motivou a se encantar pela obra, além da leveza, foi o fato de mostrar o poder que a ficção tem na vida das pessoas.
"As pessoas não vivem sem a arte, sem a ficção, e Otto mostra isso. Eu fiquei feliz, parece que eu fui com esse personagem para um território diferente dos outros personagens que eu fiz. É tudo muito sutil, muito delicado, ela tem importância dentro do jogo no geral", explica Marieta.
Já para Everaldo, Otto é um personagem apaixonante pela sua solidão e ressalta também a importância da leitura na vida dele. O ator descreve o personagem como antissocial, desconfiado, isolado e um pouco paranoico.
Mesmo tendo sido gravado há três anos, o filme mostra a rotina de um homem que escolheu ver o mundo pela janela de sua casa, sendo inevitável a comparação com o tempo presente de isolamento social. Entretanto, para Everaldo, o silêncio do ator independe do momento atual.
“A condição humana do Otto vai sempre falar sobre esses assuntos e sobre a velhice também. Eu me pareço com ele. Nos ensaios, percebi que estava nele. Sinto-me privilegiado por sempre ser chamado para fazer personagens que têm muito a ver comigo”, destaca.
O elenco também conta com a participação dos atores João Pedro Zappa, Romeu Evaristo, Pedro Monteiro, Limi Kin, Inês Peixoto, Teuda Bara e Eduardo Moreira.
Noites de Alface tem produção da Afinal Filmes e coprodução do Canal Brasil e tem previsão para estrear em salas de cinema do Rio, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Brasília.
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